Todavia, o fato de a assembleia ter recebido autoridade não significa que ela seja infalível em suas ações. J. N. Darby escreveu um artigo sobre este assunto que é de grande ajuda, intitulado "Confundindo Autoridade com Infalibilidade" (J. N. Darby, "Collected Writings", vol. 14, p. 304-307). Ele mostra que é possível que as coisas que a assembleia venha a ligar na terra possam estar erradas, porém isso não muda o fato de que a assembleia está revestida da autoridade do Senhor. Muitos têm ficado confusos com esta questão. Não conseguem entender como uma ação errada poderia ser "ligada". Eles concluem que se está errada, então não poderia ser ligada no céu. Todavia, é um engano pensar que o termo "será ligado no céu" significa que ela seja necessariamente aprovada pelo céu. Isto quer dizer simplesmente que o céu reconhece tal ação. O céu pode não estar contente com uma decisão tomada pela assembleia, porém a reconhece. A ação continua ligada. Isto ocorre porque a assembleia foi revestida com a autoridade do Senhor para agir como representante dEle. Trata-se de uma extensão de Sua autoridade. [N. do T.: Os temos "ligar" e "desligar" devem ser entendidos no sentido de "contrato" e "distrato" ou "obrigar" e "desobrigar".]
Podemos entender melhor este princípio em uma família. No artigo de Darby, "Confundindo Autoridade com Infalibilidade", ele menciona o fato de, na família, os pais terem recebido de Deus autoridade, e mesmo assim eles não são infalíveis. Todos na família devem se sujeitar àquela autoridade. Um pai pode disciplinar um filho por engano, mas ainda assim sua autoridade é válida e o dever de todos na família é se submeterem. É assim que é mantida a ordem em um lar. Quando vem à tona que o pai cometeu um erro, o normal seria ele reconhecer seu erro pedindo humildemente desculpas e fazendo as correções necessárias. O mesmo ocorre com um policial: ele possui autoridade para prender alguém, mas já que o policial não é infalível, é possível que ele venha a cometer erros. Porém sua ação continua a ter validade e a pessoa presa não tem alternativa senão aceitá-la, até que se prove que a ação foi errada. Se as autoridades civis não fossem assim, não haveria qualquer ordem no governo e estaríamos vivendo em um estado de anarquia. O céu pode não se agradar de uma decisão tomada pela assembleia, mas a reconhece. É assim que a ordem é mantida na casa de Deus.
É solene pensarmos que podemos usar essa autoridade de maneira errada e acabar associando o céu a algo que não está correto, nos colocando assim sob o juízo governamental de Deus. Esta é exatamente a razão de o Senhor ter Se dissociado exteriormente da grande massa da profissão cristã, e de Ele estar atualmente lidando com um remanescente. Se esse remanescente se achar em condições deploráveis e falhar em sua responsabilidade diante do Senhor, Ele pesará Sua mão em juízo governamental sobre aqueles identificados com esse testemunho, e o reduzirá em número e tamanho, peneirando e espalhando alguns até que estejam humilhados. Isto já aconteceu, como pode ser visto nas várias divisões e dispersões que ocorreram na história. Se aqueles conectados com o testemunho remanescente continuarem a agir de um modo que não agrade ao Senhor, Ele encerrará de vez a história da igreja na terra e a levará para a glória. É o que vemos representado no declínio do testemunho da igreja vivido pelas sete igrejas de Apocalipse 2-3. Quando se chega ao abominável estado de Laodiceia, a única saída é para cima. É aberta uma "porta" no céu e João é chamado a subir ao céu, indicando que os crentes serão assim levados na vinda do Senhor, o arrebatamento (Ap 4:1). [Ver nota]
[Nota: Apesar de Apocalipse 4:1 não ser o próprio arrebatamento, a passagem dá uma ideia do que acontecerá após a igreja ter encerrado sua história neste mundo. O Senhor virá e nos chamará.]
Traduzido de "The One Body in Practice", por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.