Mas a assembleia em Antioquia não foi a Jerusalém por não se sentir qualificada em lidar com o problema. Se fosse simplesmente para buscar um julgamento apostólico para a questão eles poderiam ter apelado para os apóstolos Paulo e Barnabé, que estavam ali com eles em Antioquia. Quem poderia ser mais qualificado que o apóstolo Paulo para lidar com questões relacionadas à lei e à graça? Se por um lado é verdade que eles davam valor ao conhecimento dos apóstolos e líderes que estavam em Jerusalém, e desejavam saber a opinião deles relacionada àquela questão, por outro existia uma razão mais profunda para eles levarem o problema até lá: era para "guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz".
O fato é que os mestres judaizantes, que estavam perturbando os santos em Antioquia, tinham saído de Jerusalém (vers. 24). Portanto, para evitar que a unidade prática entre as duas assembleias fosse rompida, os irmãos em Antioquia não queriam lidar com o problema de forma independente, mas preferiram levá-lo à sua origem. Isto mostra que as Escrituras não apoiam a ideia de assembleias agindo de maneira autônoma.
Isto também nos ensina que se pessoas de uma determinada assembleia local visitam outra assembleia e agem erradamente ali, ao ponto de isso exigir correção ou ação disciplinar, a assembleia não deve agir de forma independente na hora de tomar uma decisão. Ela deve levar o assunto à assembleia de origem dos causadores do problema, para que esta possa lidar com a questão, e assim a "unidade do Espírito" possa ser mantida no vínculo da paz. Infelizmente as dificuldades nem sempre são tratadas da maneira bíblica, o que acaba levando alguns a ficarem confusos quando surgem problemas. [Ver nota]
[Nota: O problema que ocorreu em 1884 com F. W. Grant é um exemplo disso. Embora a questão não tenha sido tratada exatamente do modo ensinado nas Escrituras, as ações heréticas de Grant e seus seguidores que se seguiram, ao estabelecerem uma mesa (comunhão) independente, manifestaram o seu verdadeiro caráter. Antes que tivessem tempo para corrigir o problema, já no dia do Senhor seguinte Grant tinha saído e formado sua própria reunião, seguido por irmãos de muitos lugares que simpatizavam com ele nessa recém-formada comunhão herética. Eles passaram a ser conhecidos como "irmãos Grant". Por duas razões os irmãos em Montreal acharam que poderiam lidar sozinhos com Grant, sem a comunhão com a assembleia em Plainfield, NJ (a assembleia à qual Grant pertencia): 1) Grant estava morando naquela área há várias semanas ou meses e, portanto, os irmãos acharam que o assunto tinha se tornado responsabilidade de Montreal; 2) eles sabiam que existia em Plainfield um forte espírito partidário, o que acabaria não levando a solução alguma.]
É digno de nota que quando os de Antioquia viajaram a Jerusalém levando aquela questão, eles pararam em várias assembleias pelo caminho, porém não transtornaram essas assembleias espalhando o problema entre elas. Eles falaram apenas das coisas que "davam grande alegria a todos os irmãos" (At 15:3), apesar de indubitavelmente estarem profundamente atribulados com a questão que atingia o cerne da posição em graça ocupada pelos cristãos. Isto nos ensina a importância de não espalharmos desnecessariamente os problemas de uma assembleia local. Nosso adversário, o diabo, poderia se aproveitar disso para causar problemas entre os santos. Este é um princípio ensinado em 2 Samuel 1:19-20, quando o rei de Israel (Saul) foi morto por seus inimigos. Eles decidiram não espalhar a notícia, principalmente entre seus inimigos, os filisteus, ao dizerem, "Ah, ornamento de Israel! Nos teus altos foi ferido, como caíram os poderosos! Não o noticieis em Gate, não o publiqueis nas ruas de Ascalom, para que não se alegrem as filhas dos filisteus, para que não saltem de contentamento as filhas dos incircuncisos".
Traduzido de "The One Body in Practice", por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.