Uma razão pela qual deveríamos ser cuidadosos neste assunto é que podemos acabar forçando a verdade em alguém que ainda não esteja preparado para ela. Às vezes ficamos tão ansiosos para dar às pessoas a verdade da assembleia que acabamos criando uma discussão. O resultado pode ser que as pessoas acabem sendo feridas pela verdade; e daí em diante passarem a rejeitá-la sem sequer ponderarem a respeito. W. Kelly escreveu que "o apóstolo [Paulo] estava consideravelmente avançado na verdade que ensinava, mas ele não iria correr o risco de causar uma divisão entre os santos em Jerusalém. Se ele ficasse indiferente à condição dos santos, ele teria apresentado toda a verdade celestial na qual ele estava bem à frente dos outros. Mas duas coisas devem ser consideradas na comunicação da verdade. Não somente deve haver a certeza de que a verdade é de Deus, mas ela deve também ser adequada àqueles a quem comunicamos. Talvez eles precisem dela, mas não estejam em condições de recebê-la, e quanto mais preciosa a verdade, maior o dano que, em certo sentido, é causado se for apresentada àqueles que ainda não estão em condições de se beneficiarem dela... Esta parece ser uma das razões pela qual, na epístola aos Gálatas, o apóstolo nunca menciona essas benditas verdades. A sabedoria dessa omissão é evidente. Tais verdades teriam sido ininteligíveis, ou no mínimo inadequadas, para as almas na condição em que se encontravam. Apresentá-las não faria bem algum a eles" (W. Kelly, "Lectures on the Epistle to the Galatians", p. 39). Veja também Marcos 4:33 e João 16:12. Devemos nos lembrar de que a verdade é para aqueles que a desejam (Jo 7:17). Apesar de podermos guiar e instruir, não é nossa tarefa tentar forçá-la àqueles que têm pouco ou nenhum interesse nessas coisas. J. N. Darby disse que ele nunca tentou coagir alguém que não tivesse a fé e convicção disso a andar na senda que ele trilhava (como congregado ao Nome do Senhor).
W. T. P. Wolston advertiu: "Não toque seus convertidos para a assembleia cutucando-os com um garfo". Reunir os cristãos ao Nome do Senhor Jesus é uma obra que Deus nunca entregou para o Seu povo fazer. Em Lucas 10:33-35 vemos que o Samaritano, que é uma figura do Senhor Jesus, levou o homem ferido à "estalagem" (uma figura da assembleia). Também lemos em Lucas 22:10-11 de um homem "levando um cântaro de água", o qual é uma figura do Espírito Santo que guia os discípulos ao lugar escolhido pelo Senhor. Isto demonstra que a obra de reunir pertence ao Senhor Jesus e ao Espírito de Deus. Ele pode nos associar consigo neste trabalho, mas é tudo obra do Espírito.
O perigo nesta área do trabalho cristão é que existe uma tendência de servos bem intencionados acabarem se comprometendo, ao se esforçarem em levar a verdade às pessoas. Devemos amar a todos os filhos de Deus (Ef 1:15). Mas enquanto nosso amor e preocupação devem ser dirigidos a todos os santos de Deus, nossos pés devem permanecer no caminho da obediência à Palavra de Deus que nos exorta a permanecermos separados da desordem existente na "grande casa" (2 Tm 2:20-21). O fato de vermos pessoas necessitadas da verdade nas várias denominações religiosas não significa que devemos deixar de lado nossa responsabilidade de andarmos em obediência. Não podemos abandonar os princípios de separação a fim de alcançar alguém. Devemos nos lembrar de que a obra toda de reunião é do Espírito. Precisamos descansar no fato de que Deus é soberano e pode alcançar pessoas onde quer que elas estejam. "A palavra de Deus não está presa" (2 Tm 2:9). Mas o fato de Deus usar Sua Palavra onde Lhe aprouver (Is 55:11) não significa que podemos ir aonde quisermos a fim de levar essa mesma palavra às pessoas.
Traduzido de "The One Body in Practice", por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.